História do Arnaldo

*História do Arnaldo*




“Relatar a minha história completa e detalhada sobre tudo o que a mãe Carmo tem vindo a fazer por mim, vai ser difícil, era preciso escrever um livro de mil páginas ou mais, mas vou tentar.


Aqui neste artigo, irei cingir-me aos factos a partir do ano 1998, porque foi a partir deste ano que ingressei no ensino primário.

Frequentei da 1ª à 5ª classe, entre 1998 e 2002, na Escola Primária de Sitone.


Há um facto muito importante que tem que ser realçado antes de tudo, é que a mãe Carmo veio dar um novo rumo às nossas vidas a partir do momento em que começou a dar apoio escolar e a investir nos estudos das crianças da ilha.

Na ilha de Bazaruto, quando uma criança concluía a 5ª classe tinha chegado ao nível máximo escolar pois não existiam outros e os pais não têm as condições financeiras para os poderem mandar para fora da ilha, continuar os estudos, e os meus não eram excepção. Antes da presença da mãe Carmo, isto era o que acontecia sempre, uma criança podia estudar apenas até à 5ª classe e depois não tinha como continuar mais.


Eu, quando terminei a 5ª classe, não tinha mais nada para fazer porque os meus pais não tinham condições financeiras para me mandarem estudar fora da ilha (no Inhassoro), e o meu destino resumia-se a acabar por ter que ajudar a minha família indo trabalhar para a pesca ou algo que a ilha me pudesse proporcionar, mas foi comigo que o cenário começou a mudar.


Recebi sempre o apoio da mãe, desde o meu ingresso no primeiro ano até à conclusão do quinto.

Quando terminei o quinto ano, a mãe Carmo veio falar comigo, e disse-me que eu devia continuar os meus estudos fora da ilha! Não vão nunca conseguir imaginar a minha reacção e o que sentia dentro de mim, como eu fiquei quando a mãe me disse isso!

Uma coisa impossível, que nunca me tinha passado pela cabeça, ia passar a ser real, e a mãe Carmo ia começar por apostar em mim, na continuação da minha educação! Já conseguia ver outros horizontes do mundo a abrirem-se para mim.

Ficava constantemente a perguntar-me: Será que é verdade? Isto vai mesmo acontecer comigo? Vou estudar para o Inhassoro? De todos os que concluem a 5ª classe não há ninguém que vá estudar para fora, será que isso pode vir a mudar comigo? E as perguntas na minha cabeça não paravam.


Na prática, as respostas para todas as questões anteriores foram positivas, as coisas depois de mim, com o apoio da mãe, realmente começaram a mudar!





A mãe Carmo virou a página da história da ilha, e iniciou uma nova era na educação das crianças da ilha de Bazaruto, a partir de 2003. Nesse ano, saí da ilha e fui para o Inhassoro, onde de 2003 a 2004 concluí os estudos até à 7ª classe, na Escola Primária do 2º Grau de Inhassoro.

Logo depois de mim, graças ao empenho e ajuda da mãe Carmo, seguiram para o Inhassoro o Jornal, Manecas, e Pedro entre outros. Importa aqui também referir que os que vieram depois, com o apoio dos pais, na sua maioria, não conseguiam concluir a 7ª classe ou chegar sequer a fazer um semestre devido à incapacidade financeira que os pais tinham em conseguir mantê-los na escola.



De 2005 a 2007 concluí a 10ª classe na Escola Secundária de Inhassoro; de 2008 a 2009 concluí a 12ª classe na Escola Secundária de Mucoque (em Vilankulo).



Actualmente, graças à mãe Carmo, estou desde o princípio de 2014 a fazer o curso de Licencitura em Ecónomia Agrária, na Escola Superior de Desenvolvimento Rural (Vilankulo), uma das unidades da Universidade Eduardo Mondlane (UEM).

Como puderam notar pela minha descrição, eu fui um dos primeiros, dos pioneiros a estudar fora da ilha com o apoio da mãe, o que me deixa ainda mais orgulhoso e feliz, pois esse projecto não se resumiu só a mim e ainda hoje continua.


Para terminar, gostaria de endereçar os meus sinceros agradecimentos a todos os apoiantes da ONG SIM, sem esquecer sempre de deixar especiais agradecimentos à mãe Carmo. Dizer ainda aos apoiantes da ONG SIM que neste mundo existe uma terra com o futuro desconhecido mas que a sua acção pode deslumbrar o futuro dessa terra.


Tabonga! Khanimambo! Obrigado! Many thanks!”



Por: Arnaldo Chibale

(Bolseiro a licenciar-se em Economia Agrária)

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